quarta-feira, 7 de julho de 2010

Valorizar o que o Norte faz melhor

Nos últimos anos assistimos no Norte à insolvência de muitas empresas, à deslocalização de várias multinacionais e à incapacidade da região para captar Investimento Directo Estrangeiro. Para fazer face a este cenário sombrio, o Norte tem agora de encontrar novos modelos de negócio e maximizar o potencial de crescimento económico que a região encerra. Que não haja dúvidas: o Norte apresenta inúmeras vantagens competitivas e, como a História comprova, o espírito empreendedor integra o ADN da região.
Importa, pois, gizar uma estratégia de desenvolvimento que promova e valorize aquilo que o Norte sabe fazer melhor. Isto significa que não se deve obliterar a identidade socioeconómica da região, mas sim introduzir novos factores de competitividade, desenvolver práticas inovadoras e qualificar o capital humano nos sectores que conferem singularidade ao modelo produtivo nortenho.
Ora, um dos sectores com mais tradições no Norte é aquele que concentra o vasto conjunto de actividades ligadas ao mar. Na região, a cultura marítima atravessou séculos de História e conhece ainda hoje forte enraizamento entre a população. É no mar que o Norte encontra alguns dos seus mais importantes recursos naturais, a partir dos quais se desenvolvem actividades com grande peso socioeconómico.
Bem sei que a nossa frota pesqueira diminuiu e a sua actividade foi condicionada pelas limitações às capturas, ao mesmo tempo que a indústria conserveira perdeu competitividade, a construção naval entrou em declínio e as zonas costeiras viram agravar-se os riscos de erosão. Mas há condições não apenas para revitalizar as actividades tradicionais como para explorar outras oportunidades económicas da Fileira do Mar: desde a animação turística às infra-estruturas portuárias, passando por actividades emergentes como a aquacultura, a biotecnologia marítima, as energias renováveis, a robótica submarina, a engenharia de sistemas ou a talassoterapia.
A competitividade destas novas actividades da Economia do Mar depende eminentemente do conhecimento, da investigação científica e da inovação tecnológica. Mas também neste particular o Norte está bem servido de recursos físicos e humanos, como prova o futuro Terminal de Cruzeiros de Leixões. Este projecto, já em andamento, inclui, entre outras valências, o Parque de Ciência e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto, que prevê a instalação de laboratórios de ponta, a atracção de centros de I&DI e a incubação de start-ups de base tecnológica. De resto, há muito que a Universidade do Porto dispõe de massa crítica na investigação marítima, havendo por isso uma plataforma de sustentação científica para as actividades emergentes do cluster do mar.
Outros sectores tradicionais da região podem igualmente ser dinamizados por projectos com elevada intensidade de I&D, conhecimento e criatividade. As chamadas Indústrias Criativas, por exemplo, não só têm impacto directo no crescimento económico, no emprego e na atracção de brainware como também dinamizam os sectores tradicionais. É fácil de imaginar o valor acrescentado que um impulso de criatividade pode gerar em sectores como os têxteis, o calçado, o mobiliário ou o turismo, contribuindo assim para o reforço da sua competitividade.
Resta dizer que também no domínio das Indústrias Criativas existe, no Norte, conhecimento avançado, massa crítica e capacidade operativa. Basta pensar em Serralves, na Casa da Música, nas várias universidades, no Centro Cultural Vila Flor, na Casa das Artes de V. N. de Famalicão, no Theatro Circo, na Casa de Mateus.... e tantos outros.

Renato Sampaio
Deputado do PS pelo Porto

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL DE NOTICIAS EM 04/07/2010