quarta-feira, 7 de julho de 2010

Potencial de mudança está no Norte

Os últimos dados do Eurostat sobre a região Norte confirmam uma realidade socioeconómica que já todos tínhamos intuído. Ainda assim, a crueza dos números não deixou de ser amarga e revoltante. No espaço de uma década, o Norte foi a única região portuguesa a distanciar-se da média comunitária no que respeita ao PIB per capita. Em 1997, a riqueza produzida por cada habitante da região correspondia a 63,6% da média da UE (a Quinze). Dez anos decorridos, o PIB per capita nortenho caiu para 60,3% da média comunitária. Isto significa que o Norte não só não recuperou o atraso que tinha em relação aos seus parceiros comunitários como, comparativamente, ficou mais pobre.
A adesão de Portugal ao euro e o processo de globalização retiraram competitividade aos nossos sectores exportadores. Ora estes sectores predominam, justamente, na região Norte e uma boa parte das suas empresas não logrou compensar a valorização do câmbio real com uma melhoria da produtividade, nem teve condições para concorrer com mercados onde os custos do factor trabalho são bastante mais baixos. Pela mesma razão, as multinacionais implantadas no Norte deslocalizaram-se para os países emergentes e a região perdeu capacidade para atrair Investimento Directo Estrangeiro.
Perante isto, a revitalização da região Norte obriga à adopção de um paradigma de desenvolvimento económico baseado no conhecimento. A estrutura produtiva nortenha (sectores tradicionais incluídos) tem de encontrar o seu esteio já não tanto nos factores tradicionais de competitividade (capital, matérias-primas, produtividade da mão-de-obra intensiva, localização ou acessos), mas sobretudo na valorização económica da investigação científica, da sofisticação tecnológica e do potencial humano.
Esta tem sido, aliás, a mensagem do Governo. E na verdade alguns progressos foram alcançados, nos últimos anos, ao nível da inovação empresarial. Portugal é já exportador líquido de tecnologia, não faltam hoje bons exemplos de PME inovadoras, aumentaram os centros de I&D no país (alguns deles internacionais) e as universidades estão a produzir mais investigação aplicada. Assistimos, pois, à desejada transição para a economia do conhecimento, embora este processo não esteja ainda a decorrer com a velocidade e sustentação ideais. Para que tal aconteça, é fundamental que o Norte seja capaz de produzir bens e serviços transaccionáveis, com conteúdo de inovação e vocacionados para o exterior.
Bem sei que a crise económica provocou uma forte redução da procura internacional, designadamente nos mercados tradicionais de destino dos nossos bens e serviços. Mas a saída para o impasse em que se encontra a economia nacional passa, incontornavelmente, pelo crescimento das vendas ao exterior, pelo aumento da intensidade tecnológica das exportações e pela diversificação dos mercados de destino.
Neste pressuposto, o Norte pode dar um contributo importante não só para a recuperação económica como para a sustentabilidade futura do país. A região tem tradição empresarial, vocação empreendedora, capital humano, boas redes de transportes e universidades com qualidade de ensino, capacidade de investigação e prestígio internacional. Há, portanto, condições potenciais para que o Norte modernize o seu tecido empresarial com base no conhecimento e, deste modo, reforce a nossa competitividade externa.
Resta esperar que o potencial de mudança que o Norte encerra seja capaz de mobilizar quer recursos públicos, quer vontades entre as forças mais dinâmicas da região – o que nem sempre tem acontecido.

Renato Sampaio
Deputado do PS pelo Porto

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL DE NOTICIAS EM 06/06/2010